terça-feira, 13 de julho de 2010

Mexerica da Saudade

Autores: Arthur Pompilio Astrogildo da Silva & Thamires Zaboto Mirolli

Depois do trabalho, lembrei que precisava passar no mercado, reabastecer a micro dispensa de uma prateleira de casa. Dentre muitas gondolas de coisas variadas, algo me atraiu como uma força magnética até a sessão de sacolão. De repente me deparei com mexericas, é óbvio que não é uma fruta a qual comemos todos os dias, feito maçã, existe algo de misterioso no sabor e na própria forma e textura da mexerica. Peguei algumas, por sinal, muito laranjas e vistosas. No caminho para casa não pensei em nada, apenas em descansar e no conforto que nossa casa nos traz. Ali olhando para as compras que tinha feito, e para o sofá confortável em que estava, muitas coisas me passaram pela mente. Súbito me levantei e fui até a cozinha. Lembrei que eu tinha de lavar a louça e limpar o leite que havia derrubado pela manhã. Após a modesta faxina, decidi pegar uma mexerica. Havia muito tempo que não degustava uma. E o fato de apenas segurar aquela fruta sob a luz central da cozinha, me fez sentir algo indescritível. O laranja era tão vívido aos olhos, como se tivesse luz própria. Aquela luz contrastava com o pôr do sol, que agora vinha pela janela. Decidi, por fim, descascar a fruta, afinal, estava morrendo por algo que abastecesse meu estômago cansado de um dia de trabalho. Mas ao arrancar o primeiro pedaço, senti o aroma inconfundível. Esse aroma me remetia quando minha avó chegava da feira com minha mãe com sacolas enormes cheias de mexericas. Recordo-me também quando minha família ia nos sítios e fazendas das pessoas, onde elas tinham pés de mexericas. Nós comíamos no período todo de férias. Lembro que depois de comer umas cinco mexericas de uma vez só, aquele cheiro impregnava nas mãos, e eu passava o dia sem conseguir removê-lo. Agora, a mexerica estava toda descascada e como antes o cheiro ficou nas minhas mãos. Parti-a ao meio e me preparei para saborear o primeiro gomo.instantaneamente lembrei-me de nossa viagens com a familia toda, todo aquele tempo de viagem infinito, eu e os irmãos pequenos ainda faziamos tanta festa dentro do carro que eramos açoitados por broncas durante a viagem. Fingiamos que faziamos silencio, pois faziamos brincadeiras silenciosas mas sempre com um final de exaltação e risos até a bronca da mamãe. Ao segundo gomo, lembre-me de quanto o contato com a familia me parecia confortavel. As vezes vejo familias nos shoppings, nos parques, nas ruas, e noto a complexidade paradoxal, pois também é simplicidade, que há em um convivio familiar. Saudades. Fui beber agua e lembrei-me das obrigações. Decidi voltar a mexerica. E novamente lembranças de outro tempo tomaram minha mente. A nostalgia é algo magico, pois nos transporta e transforma, é como se a lembrança achasse outro lugar da memoria para se acomodar, como novos detalhes ou até com os mesmos, mas sempre com uma caracteristica diferente.Lembrar daquele tempo, me fez pensar em como era bom os tempo de criança, onde não haviam responsabilidades, onde a maior preocupação era a brincadeira ou a bronca do dia seguinte. Já havia passado de metade da fruta agora, e era como a minha vida. Eu estava no meio dela. Já tinha muito do que me lembrar, me arrepender e me alegrar, mas ainda tinha muito por viver. Mergulhei no sabor de mais um gomo, e me lembrei dos tempos de adolescencia. Eu já não via mais minha avó trazendo mexericas na sacola de compras, pois ela tinha ido para outro lugar, alcansável só pelos sonhos humanos. E um misto de tristeza e alegria me invadiu o peito. Esse sentimento duplo abriu a minha mente para perceber que as lembranças que carregam tais sentimentos não trouxeram os momentos de volta, mas a sensação que ainda posso vive-los, no sabor, no cheiro grudento nas mãos e na textura unica da mexerica.

Um comentário:

  1. Também sou bastante atento às lembranças (geralmente boas) que os cheiros e sons nos trazem a mente. É de fato uma sensação muito gostosa.
    Agora...deixar leite derramado pra limpar só de tarde? Nem eu que sou o mais porcalhão conseguiria, hehehe.
    Parabéns pela parceria.

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