terça-feira, 30 de março de 2010

Batizado

Quando olhou para cima, gotas caíram sobre seu rosto.
O incomodo foi tanto que um desequilíbrio emocional se instaurou.
Quem disse que era preciso aquilo?
Ao crescer veio a descobrir aquele sacramento.
E perguntou aos pais:
-Por que fui batizado quando eu nem sabia o que era?
Depois da pergunta constrangedora, foi em direção ao quarto e trancou-se.
Considerava-se não batizado e estava em busca de um Batismo.
Olhava para seu curto passado e mesmo assim já projetava.
Disse para si que não queria nunca ser quem não soubesse quem era.
Não gostava da superficialidade, por isso tudo era um por quê.
E cresceu até olhar seu passado com mais vertigem.
A vertigem era tanta que precisava de um analista.
Descobriu que um batismo era um ritual ao qual teria que honrar até quando não sentisse que seu corpo não pertencesse mais aquele mundo.
Descobriu também a importância de ser batizado: queria um nome e um propósito.
Fácil: como criar conta em banco.
Difícil como saber para que veio a esse mundo.
Então decidiu se afastar da família e procurar a essência de tudo.
Queria então mostrar a si mesmo que era capaz de buscar sua essência e batizar a si próprio. Sabia que talvez fosse contra a tudo e todos. Mas era o sentido que buscava pra si. Se fosse logico, talvez não sentisse, não discordasse das leis já criadas. Se sentia poderoso o suficiente para articular leis. Buscar seu conforto no meio de tanto desconforto.
Inventou pela primeira vez um modo de se libertar do gosto amargo que era viver.
Numa viagem, foi para longe, e pousou numa cidade pequena e quase deserta. Ao descer da condução sentiu algo em seu ser que lhe fez buscar sentidos.
Ouviu dizer de uma caverna, um jardim e um templo.
Ao chegar na caverna ficou la por um tempo, vendo as rochas, os insetos, o próprio formato da caverna, vendo as formações, pensava em como tudo aquilo que via se formou.
Logo gostas de água molham seu rosto.
Depois buscou o Jardim. Sentiu em plena harmonia com a natureza, não pensou em nada, prestou atenção na sua respiração, no som das folhas das arvores, som dos pássaros, e ficou la até que sentisse a hora de deixar o lugar.
Buscou o Templo: La encontrou um senhor velho que contava algo a crianças e jovens.
Disse que quem vai a caverna sem proposito, acaba por curar uma ferida. Quem vai ao jardim aprendia a cultivar sua mente como uma planta. E quem chegasse ao Templo iria se dar conta da própria existência e se sentiria satisfeito.
O Jovem em busca do batismo parou, sentou-se, e olhou para seu passado com menos tristeza, mas com mais ternura, percebeu que todas as coisas que ele fez, desenharam o homem que é hoje.
Percebeu que se esperasse por um batizado, ja estaria, por perceber coisas que desenham sua essência. Preocupava-se em tomar uma vida mais digna, mais clara, mais radiante, percebeu que as pessoas que o conheciam, não faziam ideia o que era isso que buscava, por um momento se sentiu louco, mas a vontade de ser quem ele era tomou sua mente e o guiou para dentro de suas novas vontades, novas descobertas sempre em busca do seu conforto, do seu próprio luxo de ver as coisas com seu próprio olhar.

2 comentários:

  1. "...percebeu que todas as coisas que ele fez, desenharam o homem que é hoje."...

    Q massa hein!!!!!
    Fez de vc hoje o q é...o hoje o amanha e o depois!!!

    Bjao

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  2. "por um momento se sentiu louco, mas a vontade de ser quem ele era tomou sua mente e o guiou para dentro de suas novas vontades, novas descobertas sempre em busca do seu conforto, do seu próprio luxo de ver as coisas com seu próprio olhar. "

    No fundo era isso o que todos nós devíamos fazer, nos livrar da visão dos outros e ver as coisas por nós mesmos.

    Muito bom Arthur,
    continua assim.

    bjo

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